No dia 27 de
julho, eu estava em Araripina, no sertão pernambucano, pajeando uma cliente aleatória,
sendo consumida como arquiteta e psicóloga quando recebi a carta final que
comprovava que tinha sido aprovada em um programa de bolsas para estudar na Universidade
de Pécs, na Hungria (que sendo bem sincera eu não sabia nem apontar no mapa). E
hoje, 30 de setembro, faz um mês que me mudei.
O fato é que se
alguém me parasse no dia 06 de julho, quando eu completei 27 anos, e me falasse
que em agosto eu me mudaria pra Pécs eu no mínimo chamaria de louco e gritaria
para que parasse de me iludir. Eu não posso dizer que era uma pessoa triste,
mas na real, não estava feliz com a minha rotina em Recife, eu realmente
precisava de uma oportunidade, com ares de forte justificativa, para abandonar
o trabalho que não me fazia feliz e sair de uma cidade que não me ofertava um
lazer que me fizesse abandonar a Netflix sem me sentir arrependida.
Abandonei uma
realidade onde eu tinha carro, onde trabalhava como arquiteta colaboradora em
um escritório famosinho da cidade, onde tinha meu próprio quarto, onde tinha o
meu próprio banheiro, onde eu tinha família por perto, onde eu tinha amigos por
perto... e vim para Hungria, sem conhecer nada, nem ninguém, pulando no total
desconhecido e buscando uma motivação que já não tinha em Recife, onde eu só
respirava por conveniência.
Foi uma
decisão difícil, afinal, morar em dormitório, tentar viver com a bolsa, ter que
enfrentar o inverno e não ter ninguém com quem você possa desabar seus
sentimentos não é algo muito atrativo, mas após esse mês eu só posso dizer que
foi uma das melhores decisões que tomei. Bom, eu tive sorte, não posso negar, assim
que cheguei ao meu quarto já encontrei quatro brasileiros, sendo uma dos
brasileiros minha colega de quarto, o que já me deixou bem mais aliviada e
menos apreensiva; aos poucos descobri mais brasileiros (amo brasileiros, tenho
que dizer isso); minha colega de quarto é bem legal e ela lembra meu irmão, o
que me faz gostar mais dela; conheci um húngaro e ele precisa ser mencionado,
porque com ele eu me sinto livre para ser eu mesma; estou amando ser estimulada
a pensar na arquitetura que eu quero fazer e não na arquitetura “vendável”; estou
morando em uma cidade onde me sinto segura e consigo resolver tudo andando e já
tenho amiguinhos.
É claro que
tem momentos que desejo muito me tele transportar para Recife, chorei horrores
na hora que o avião decolou, tenho saudade dos meus pais, do meu irmão, dos
meus amigos, das minhas primas, das minhas cachorras e do bebê que eu nunca vi
fora da barriga da minha prima, maaas eu tenho total clareza que eu precisava
fazer isso por mim e esse ato egoísta era uma necessidade, eu precisava ouvir
esse grito que mandava, implorava e dava coragem para sair do lugar comum. E
agora posso dizer que respiro por prazer.
1 comments
que vida louca, né.
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