GUERRILLA ARQUITETURA


A prática arquitetônica como expressão artística está sempre relacionada à beleza, como arquitetos é inegável o nosso desejo em fazer um prédio bonito, mesmo que para isso a função seja um pouco comprometida, algo que nunca assumiremos (você não leu isso aqui, diz que foi no Archdaily, por favor).

E essa prática de fazer algo bonito, lindo mesmo, geralmente acaba direcionando nossos designs para um ato individual contra um problema/programa que nós deveríamos compreender, fato que nos leva a inibir a contribuição dos usuários, fundamental parte em qualquer projeto, já que semas pessoas não há razão para o projeto em si.

Além disso, a pressão do mercado e a incessante busca por lucro é outro ponto que acaba privando/afastando o arquiteto da dimensão cultural e social da profissão, onde o resultado é uma prática profissional que pouco usufrui dos benefícios do dialogo com o usuário e pouco conhece suas reais necessidades. E nesse panorama surge a Arquitetura de Guerrilla, com um nome ameaçador, que nos faz questionar de imediato sua semântica, uma palavra do espanhol usada para se referir a lutadores, onde o diminutivo evoca a diferença de números, escala e competência entre a guerrilha armada e a formal.

Geralmente confundida com a chamada Arquitetura Parasita, por ter um diálogo similar do uso do espaço, principalmente porque as duas normalmente são construídas em espaços com estruturas pré-existentes, tendo a Arquitetura de Guerrilla se distinguindo  pelo extremo caráter social, onde as necessidades das pessoas são o foco principal da arquitetura e assim a prática emerge com um ato político.


Questionando os valores de alguns arquitetos, dos governantes e até daqueles responsáveis pelo planejamento urbano, achando brechas legais e preenchendo espaços renegados para criar uma arquitetura funcional para as pessoas e pelas pessoas, onde regularmente a demanda vem diretamente da população em si e não mais do empresário que visa o lucro, o que aproxima a comunidade da tomada de decisões na busca pela melhor solução e maneira em como aquele edifício servirá a comunidade.

O arquiteto espanhol Santiago Cirugeda, baseado em Sevilha, produz esse tipo de arquitetura integrado ao seu mode de vida, com uma arquitetura taxada como feia, ele reivindica espaços abandonados e os devolve como um espaço público interessante a comunidade. Geralmente com uma estrutura simples e rápida de construir, feita com materiais reciclados e, principalmente, com uma forte função social, enfatizando que a arquitetura é muito mais que beleza, ela tem que ser funcional, barata e deve ter uma forte razão para a sua existência.


Cirugeda é um bom exemplo que é possível através da arquitetura fazer uma abordagem alternativa, que as vezes são resultado de um reinterpretação das leis (vivendo no limbo legal) ou simplesmente usando de uma solução ilegal, com isso abrindo o diálogo e questionando as leis diante do interesse e necessidade da sociedade. É importante ressaltar que o papel dos edifícios vai muito além do design do projeto e das legislações nos seus atos, Cirugeda, também é construtor e traz para o canteiro os usuários através de oficinas de autoconstrução, fato que aumenta o sentimento de pertencimento entre o edifício e os usuários... e isso é lindo.

O caráter revolucionário de sua arquitetura nos relembra que a arquitetura é uma resposta as necessidades da sociedade e que é possível levar arquitetura para todos, através de um design interessante, onde a beleza deixa de ser a prioridade e se enfatiza a funcionalidade e a busca por uma melhor vivência da sociedade, onde os usuários são ativos na sua própria transformação social.


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